A CULTURA DO “EU” E SEUS MALEFICIOS PARA A SOCIEDADE
Vivemos em uma sociedade que caminha a passos largos para o individualismo, as pessoas tem se tornado cada vez mais egoístas e despreocupadas com o outro e com as comunidades a qual pertencem, percebe-se a cada dia que os indivíduos constroem para si uma realidade própria onde o que vale são os interesses pessoais, o enriquecimento pessoal, a satisfação pessoal, o prazer e etc. O resultado desse comportamento é refletido nas relações interpessoais, na vida em sociedade, no trabalho, nas artes, consumismo ou seja em tudo. Esta busca desenfreada pelo “para mim” deveria culminar na felicidade plena, mas... Não é o que vemos, percebe-se que essa valorização do EU tenta preencher lacunas emocionais, físicas e espirituais, porém, não atinge o seu objetivo, o ser humano ainda assim não se conhece, não se enxerga e não encontra o que tanto procura.. Por quê?
Temos necessidades que dependem do outro para serem preenchidas, vemos isso claramente com os bebês, experimente deixar uma criança sem leite, ou sem afeto, com certeza essa criança morrerá. Porém, na sociedade contemporânea em que vivemos, as crianças são ensinadas a viverem em um mundo alheio a sociedade, os pais procuram dar o que querem e muitas vezes reforçam em suas mentes a idéia de que somos o que temos, e vemos crianças compulsivas pelo TER desde muito pequenas, estes valores não permeam apenas o pensamento de classes abastardas, nas classes pobres também são cultivados estes valores. A conseqüência são jovens e adultos cada vez mais alheios a sociedade, mais preocupados consigo e menos preocupados com o restante, vivendo em um mundo paralelo, onde não se enxerga a desigualdade, principalmente porque não se convive com o diferente,ou até se convive, quando isso traz benefícios para si como Freud assim percebeu em seus princípios de psicanálise . Há um isolamento do individuo dentro de si mesmo, e mesmo se tendo tudo, o homem não encontra o que procura.
Vemos então que na busca pela auto-suficiência o homem se esqueceu de sua essência relacional, a psicologia nos mostra que ao olharmos para o outro passamos a nos conhecer, ou seja, nos reconhecemos através do outro, o escritor Caio Fábio em seu livro Enigma da Graça, mostra com muita sabedoria esta questão e nos lembra que o nosso relacionamento com o outro nos permite conhecer nossos defeitos e qualidades que às vezes no nosso relacionamento interno não conseguiríamos descobrir, coisas que o espelho não reflete.
Então podemos perceber a grande lacuna construída, o homem precisa do outro para ser feliz, mas foge do outro por não querer encarar a realidade do que é! Ter a consciência do que somos é sempre muito doloroso, pois, neste momento descobrimos que não somos tudo o que imaginamos olhar para o outro, olhar para a pobreza, para as mazelas, para a injustiça; reflete o nosso egoísmo, nossa maldade, ou seja, expõe nossa essência. Conviver com o que somos conhecer nossos defeitos e qualidades, saber de somos limitados é sair de nossa cápsula encantada onde tudo é para mim e é perfeito, é enxergar que a desigualdade social, a injustiça, o sofrimento e tudo o que lutamos para não ver e não nos envolver tem haver comigo e que a minha omissão contribui para que isso aconteça. Se conhecer exige um posicionamento de nosso papel na sociedade e um relacionamento pessoal com as pessoas com quem convivo.
Como isso traria a felicidade? Neste processo de autoconhecimento e libertação do EU e do PARA MIM, o individuo começa a se relacionar e a entender o outro e suas limitações porque agora ele se entende, se torna mais tolerante, paciente e principalmente percebe que ele faz o mundo em que ele vive se sente útil, capaz e agente de algo maior , pertencente a um mundo que certa forma precisa de sua ação e não de sua omissão, precisa do você e não do eu...
Na verdade a felicidade que tanto procuramos está em nos libertar de nós mesmos!!!